Paula Rego: Anos 80
13 de dezembro de 2018 a 26 de maio 2019
Exposição prolongada até 23 de junho de
2019
A exposição Paula Rego: Anos 80 reúne um vasto
conjunto de obras desta década que se encontram, na sua grande
maioria, em coleções particulares. Este período coincide com
mudanças pessoais, sociais e artísticas que provocam em Paula Rego
um sentimento de liberdade em relação às expectativas impostas
quanto ao modo de "fazer arte", e que se traduzirá numa
reformulação do seu processo de trabalho (universo narrativo e
tratamento formal das suas obras). A sua vontade de libertação
artística, de "fazer mais diretamente", irá conduzi-la a um espaço
de maior proximidade consigo, com a sua vida para além da pintura.
A presença e o confronto com as suas emoções através da pintura
desencadeiam-se quando estabelece uma linguagem visual radicalmente
nova para contar as suas histórias, criando um universo complexo e
ambíguo em que os animais são criaturas com qualidades e
comportamentos humanos, atiradas para situações peculiares, dramas
vívidos e que invadem ruidosamente a sua pintura.
Por esta razão, os enredos complexos que cria nas pinturas
apenas podem ser desvendados nas entrelinhas. A ambiguidade é
reforçada pela dúplice condição que Paula Rego confere aos animais
que retrata e que preservam, por um lado, a sua singularidade, mas
que, por outro, a cumulam com a sua humanização, fundada em
estereótipos relacionais. E os animais prestam-se porque
as emoções humanas são neles facilmente identificáveis através de
associações que vêm da cultura popular, sobretudo das fábulas, e
que se estabelecem de imediato.
Em todas estas obras em que o animal se apresenta como o nosso
outro, visto do lado de fora ou do lado de dentro, em qualquer que
seja a história narrada por Paula Rego estabelece-se sempre um
processo de questionamento, mas também de revelação crua e, muitas
vezes, brutal da natureza humana e das relações que os humanos
estabelecem entre si, sejam elas familiares, amorosas ou políticas.
A artista serve-se da natureza dos animais para despir as
narrativas de qualquer sentimentalismo redutor.
Curadoria: Catarina Alfaro