7 de Novembro de 2013 a 20 de Abril de 2014
Inaguração às 18h00.
Curadoria:Paula Rego, Catarina Alfaro
A exposição estabelece um diálogo entre dois artistas para quem a
obra gráfica se tornou um meio de expressão tão directo como o
próprio desenho.
Esse diálogo foi possível através da colaboração do colecionador
Juan Espino Navia, que disponibilizou a sua colecção de litografias
de Honoré Daumier (1808-1879), - publicadas na sua maioria no
jornal satírico francês Le Charivari - para que fossem vistas e
escolhidas pela artista Paula Rego e integrarem uma
exposição.
Os dois artistas usaram e dominaram, à sua maneira, as técnicas de
gravação para fazer chegar as suas visões, histórias e perspectivas
políticas a um público mais vasto do que o associado à pintura e à
escultura e exploraram esta forma artística mais democrática para
produzir imagens múltiplas que, postas a circular, podem operar uma
mudança de mentalidades. No caso de Daumier, foi sobretudo o
processo litográfico que lhe facultou não só um meio de
subsistência e um rendimento estável, como também uma forma de
propagar a sua defesa do homem comum, dos marginalizados, dos
expropriados. Para Paula Rego, foram a gravura e a litografia que
lhe facultaram um complemento à pintura e lhe permitiram chegar a
uma vasta audiência com as suas narrativas femininas únicas.
O trabalho gráfico de Paula Rego (que inclui também as obras
produzidas a água-tinta e a serigrafia) constitui-se, em cerca de
três quartos da sua totalidade, a partir do desenvolvimento de
séries temáticas. Se já na pintura a artista desenvolve narrativas
que não se esgotam numa única obra, a utilização das técnicas da
gravura e da litografia permitem-lhe multiplicar as histórias,
intensificando todo o seu sentido narrativo, através de
desdobramentos e intersecções imagéticas. Nas litografias de
Daumier, também pertencentes a séries, são satirizados os episódios
quotidianos da vida social francesa, sobretudo os que caricaturam a
pequena burguesia e a classe média. E o que mais encanta Paula Rego
nestas composições caricaturais «é a elasticidade do traço de
Daumier e como frequentemente há algo de errado mas expressivo na
composição dos corpos».
Tanto Daumier como Paula Rego usaram a produção artística gráfica
como elemento diluidor das hierarquias e da diferenciação entre a
arte erudita e a popular, sempre comunicante com o tempo presente
através das suas vozes críticas e socialmente interventivas.
Catarina Alfaro, Curadora