Localização
Avenida da República, 300
2750-475 Cascais
+351 214 826 970
Horário
3ª a domingo: das 10h às 18h
Público Geral: 5€
Residentes: 2.5€

Manuel Amado/

O Verão era assim como uma casa de morar onde todas as coisas estão…
Manuel Amado
18 de maio a 17 de julho de 2016

Inauguração dia 18 de maio às 18h00


Curadoria: Paula Rego e Catarina Alfaro

26 óleos sobre tela realizados entre 1975 e 2008
Uma seleção de Paula Rego

"Estes quadros possuem todos uma simplicidade ameaçadora", afirmou Paula Rego, enquanto escolhia as pinturas. Não há dúvida de que a obra de Manuel Amado se constrói a partir de um mistério que é, à partida, simples: as coisas normais vêem-se sobre um ângulo diferente, e por isso os modos de conceção da subjetividade na apreensão do mundo podem tornar-se a verdadeira fonte do enigma. Cada uma destas pinturas será, então, um exercício de perceção do invisível no visível da obra. A sua pintura não restitui o visível mas torna visível. Em pintura, como paradigmaticamente afirmou Klee, não se trata de reproduzir ou inventar formas, mas sempre de um exercício de captação de forças. É por isso que nenhuma arte é figurativa, sendo a tarefa da pintura definida como uma tentativa de tornar visíveis as forças que não o são: "a luta com a sombra é a única real. Quando a sensação visual afronta a força invisível que a condiciona, desprende-se dela uma força que pode vencer esta, ou então fazer dela uma aliada".

manuel amadoManuel Amado, Casa de banho com cortina amarela, 1992

 

O encontro, furtivo ou explícito, com as histórias e as imagens que as contam nunca se traduz, na obra de Paula Rego, numa tentativa de ilustrar a pintura antiga, a palavra, o romance, ou a persistência das imagens cinematográficas ou teatrais que se alinharam como as suas influências marcantes.
Ao compilar fragmentos de pinturas, caçados aqui e ali, Paula Rego arranca da sua memória histórias e imagens que estão associadas às suas impressões visuais mais profundas, auxiliada por novos - mas temporalmente longínquos - estímulos visuais que actualizam essa memória. É precisamente do confronto com as imagens do passado e a sua actualização na experiência/memória visual e narrativa da artista que surge o corpo de obras concebidas durante e após esta experiência com a colecção da National Gallery.
A Caçadora Furtiva, na Casa das Histórias Paula Rego, mostra, com particular destaque, uma série de trabalhos da artista que resultam precisamente deste encontro com as colecções de museus ou os que são criados na sequência de um convite para exposição nesse contexto museológico, sem que haja necessariamente uma relação com as colecções.
É nesta condição de caçadora furtiva que persegue a sua presa e se recolhe, para depois se fundir com ela, que devemos olhar para as obras presentes nesta exposição.

As forças invisíveis presentes na pintura de Manuel Amado são, em primeiro lugar, as suas ligações afetivas aos espaços que habitou e que são reveladas através da memória, não fotográfica, mas uma memória reconfigurada que contém ressonâncias que derivam do passado e do presente, do momento em que esses espaços estão a ser relembrados pelo artista, através da pintura. Mas podem a vida, o tempo e as suas memórias serem tornados visíveis? Marcel Proust, na sua obra À la Recherche du Temps Perdu, aludiu à memória involuntária, distinguindo-a da memória voluntária que ilustra ou narra o passado. A memória involuntária, que segundo o autor contém a essência do passado, funciona de um modo completamente distinto, juntando duas sensações que existiram em diferentes níveis do corpo e que se apreendem uma através da outra, a sensação do presente e a do passado, surgindo algo que era irredutível a qualquer uma delas. Assim se estruturam estes espaços criados por Manuel Amado, a partir de zonas de confronto, de sensações divididas, que se readequam umas nas outras, precisamente como notou Paula Rego: "É como se ele pintasse para erradicar um fantasma, algo que nunca conseguirá fazer."