Localização
Avenida da República, 300
2750-475 Cascais
+351 214 826 970
Horário
3ª a domingo: das 10h às 18h
Público Geral: 5€
Residentes: 2.5€

Old Meets New/

Old Meets New
Paula Rego

25 de maio a 30 de outubro de 2016
Exposição prolongada até 26 de fevereiro de 2017

Inauguração dia 25 de maio às 18h00


Curadoria: Catarina Alfaro

A apropriação das histórias a partir da palavra escrita é um exercício matricial e recorrente na obra de Paula Rego. A sua aprendizagem na Slade School of Fine Art, em Londres, de 1952 a 1956, foi determinante para a estimulação desta linha de pesquisa permitindo-lhe desenvolver uma linguagem figurativa pessoal em que o seu universo de referências identitárias está sempre presente.
A preocupação em imprimir um cunho realista às suas obras partindo da realidade que mais lhe é próxima, a de Portugal, está na origem da pesquisa pictórica de Paula Rego e é igualmente partilhada pelo escritor português que mais admira, Eça de Queirós (1845-1900). O processo de denúncia social e política é elaborado por ambos a partir de uma observação atenta do quotidiano e reflete, apesar da distância cronológica que os separa, o modo como o contexto ideológico, filosófico, político e mesmo moral do realismo foi determinante na definição dos seus percursos artístico e literário.
A seleção das narrativas queirosianas por Paula Rego como ponto de partida narrativo para as suas novas séries de obras O Primo Basílio (de 1878) e A Relíquia (de 1887) foi realizada em total coerência com a temática transversal à sua obra: os dramas morais e sociais; as relações humanas, sem artifícios nem heróis.

Paula RegoPaula Rego, Breakfast, 2015

 

Cada cena é recriada numa sequência visual de momentos-chave de dramaticidade e os títulos que a artista atribui a estas obras podem identificar vagamente os enredos dos romances de Eça. Não há dúvida que as suas pinturas partilham simbolicamente os lugares e personagens convocados por estas imagens literárias, mas há sobretudo e sempre uma intenção transformadora que autonomiza as pinturas das histórias originais. Essas ficções são encenadas, representadas e reinterpretadas no atelier da artista, onde as histórias ganham vida própria através dos modelos vivos, sobretudo Lila Nunes. Paula Rego escolhe também os figurinos, vestindo todos os seus intervenientes com roupas criadas para o momento narrativo pictórico. Juntam-se ainda outros elementos-chave à composição: mobiliário e demais aspetos decorativos são aqui metodicamente incorporados. As personagens ocupam este espaço cenográfico complexificado, posicionando-se em cena de acordo com o seu papel principal ou secundário, dando uma nova vida às histórias. Nesta abordagem marcadamente autoral e muitas vezes auto-referencial, as obras deixam de se submeter, numa delineada estratégia de transgressão, às suas referências exteriores. Estas, por sua vez, ganham um novo sentido ao articularem-se, na tela ou no papel, com elementos e histórias que apenas à autora dizem respeito.
Paula Rego tem-se servido das técnicas da gravura e da litografia para expressar a sua voz crítica, mordaz e socialmente interventiva. Os melhores exemplos desta denúncia social são as séries Aborto (1999-2000) e Mutilação Genital Feminina (2009). Exposta pela primeira vez na Casa das Histórias Paula Rego, esta perturbadora série sobre a mutilação genital feminina alerta-nos para um terrível problema social, com contornos religiosos, que atinge sobretudo as meninas entre o nascimento e a puberdade. Paula Rego retrata este cruel e traumático processo cirúrgico criando as imagens terríficas que o tema exige.
Destacam-se ainda nesta exposição três obras de uma série de seis, realizadas em 2014, sobre a vida do último rei de Portugal, o rei D. Manuel II, O Rei Saudade. Paula Rego regressa, com esta série, a uma reflexão sobre a vivência do exílio iniciada em 1963 na obra Exílio [Um velho exilado sonhando da sua juventude].