Histórias de todos os dias.
Paula Rego, anos 70
Paula Rego e Salette Tavares:
Cartografias da criatividade feminina
nos anos 70
5 de novembro de 2022 a 21 de maio de
2023
Paula Rego (1935-2022) e Salette Tavares (1922-1994)
conheceram-se por volta de 1964 e foram, para além de amigas na
vida privada, também companheiras no mundo da arte. Lembrar a sua
amizade e a sua cumplicidade artística neste ano de 2022 acrescenta
um outro dado partilhado por ambas, que ensombra, no entanto, esta
pequena celebração: o aniversário dos 100 anos de nascimento de
Salette Tavares coincide com o ano da morte de Paula Rego.
Esta exposição comemora a sua relação e revela os caminhos
distintos, mas cruzados que traçaram no contexto português nos anos
1970 e sobretudo após a Revolução de 25 de Abril de 1974. As
protagonistas desta exposição experienciaram os acontecimentos que
se seguiram à queda da ditadura em Portugal de forma distinta.
Histórias de todos os dias.
Paula Rego, anos 70
Paula Rego viveu este período com bastante pessimismo. Não só
enfrentou dificuldades económicas e um bloqueio criativo que
começara a sentir no início da década, como também cedo se
desencantou com o rumo que o país estava a tomar, que parecia
encaminhá-lo para um outro tipo de ditadura: falava-se
inclusivamente logo a seguir à revolução da promoção de uma arte
oficial.
Salette Tavares, por seu turno, dedicou-se à crítica de arte nos
anos 1970 e tornou-se em 1974 presidente da secção portuguesa da
Associação Internacional de Críticos de Arte (SP/AICA) em 1974 (até
1977). Viveu ativamente os anos seguintes à revolução, defendendo
com militância o papel da arte e da cultura e também da intervenção
da SP/AICA no abandono da ideologia conservadora e colonialista do
Estado Novo e na consolidação do processo de democratização.
Apesar do olhar negativo que Paula Rego sempre manteve sobre a
década de 1970, a artista foi logo em 1971 distinguida pelo Prémio
Soquil, que confirmou então a sua relevância no panorama artístico
português. Para além disto, a sua obra adquiriu a partir desta
altura uma grande visibilidade através da sua circulação por várias
exposições realizadas no país e no estrangeiro.
Curadoria: Catarina Alfaro e Leonor de Oliveira